quinta-feira, 21 de julho de 2011


"Mais do que uma vez assisti a uma mulher a ser violentamente agredida pelo companheiro. Vivia na minha rua e tinha várias filhas pequenas que sem hipótese de escaparem a este pesadelo frequente, viviam dentro dele, sendo testemunhas da dor, da falta de respeito, do medo.


Ontem, vi uma jovem de 23 anos marcada no pescoço. Marcas que revelam que o companheiro muito provavelmente a agarrou com força, quem sabe até a sufocar, depois de uma discussão. Olhei para os seus olhos, a brilhar de lágrimas e a sua voz embargada, disse-me que estava tudo bem, que um dia se fartava.


Não quero sequer imaginar a quantidade de mulheres que diariamente sofrem de maus tratos, sejam eles físicos ou não, dentro das suas quatro paredes, sozinhas e vulneráveis, sujeitas à bestialidade de um homem que com a maior naturalidade sai com elas de braço dado na rua. E penso: e se for a minha irmã? A minha prima? A minha amiga?


A violência sobre as mulheres é, em muitos casos, silenciosa, subtil e dissimulada. É preciso estar atento, mostrar abertura para ajudar, e tentar diminuir o medo terrível que estas mulheres têm de se libertar do monstro que se alimenta delas e da sua felicidade.


As Nações Unidas lançaram um repto: criar cartazes alusivos à luta contra a violência sobre as mulheres (seja física, psicológica, sexual). A grande maioria, sem desvalorizar, mostram-nos o banal: mulheres magoadas, negras, com sangue, fazendo com que essa imagem e mensagem pela negativa (naquela que deveria ser uma campanha contra a violência) entre na nossa mente.


Um dos portugueses a concurso, pelo contrário, criou um cartaz que retrata doçura, respeito e felicidade, através de uma imagem amorosa de dois leões, jogando assim com uma metáfora engraçada: «be an animal». De facto, o ser humano consegue ser muito mais irracional do que muitos animais. Chamar de animal a um homem que agride a sua companheira é injusto para o mais feroz e perigoso animal.


Os cartazes, a votos até dia 31 de Julho, pretendem que cada clique, cada voto, signifique uma atitude perante este flagelo que nos acompanha há séculos.


O cartaz do português João Antunes é este. O tal que apela à luta através de uma imagem positiva, metafórica e original. Votem, não há registos, basta estarem conectados ao facebook, que podem votar no site que vos dei. Podem votar todos os dias. Imaginem que cada voto é um abraço reconfortante aos milhares de mulheres que por todo o mundo estão presas no inferno da violência."

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